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Capítulo 1 – A Liberação dos Seres

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महा निर्वाण तन्त्रम्
Mahā Nirvāṇa Tantram

Uma tradução feita por:
Karen de Witt
Uma yoginī em seva a Śrī Śiva Mahādeva
(karen_de_witt@hotmail.com)
A partir de diversos autores.
© Todos os direitos reservados. A tradução não pode ser comercializada sob qualquer meio. Este é um trabalho de seva e está disponibilizado gratuitamente na internet.
Rio de Janeiro
PRIMEIRA TRADUÇÃO: 2009
REVISÃO:2020/2021

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Capítulo 1 – A Liberação dos Seres

1:1-5 – O cume encantador do Senhor das Montanhas, resplandecente com todas as suas várias joias, vestido com muitas árvores e muitas trepadeiras, melodioso com o canto de muitos pássaros, perfumado com fragrância de todas as flores das estações, mais lindo, ventilado por uma suave, fresca e perfumada brisa sombreado pela sombra de árvores imponentes; onde bosques frescos ressoam com as doces canções de vozes de tropas de Apsarās, e nas profundezas da floresta bandos de Kokila, embriagados de paixão, cantam; onde o Senhor das Estações (Śiva), com seus seguidores, sempre permanece; povoado por tropas de Siddha, Cāraṇa, Gandharva e Gāṇapatya.

1:6-10 – Foi lá que Pārvatī, encontrando Śiva, seu gracioso Senhor, em modo sereno, com obediência, curvou-se, e para o benefícios de todos os mundos, questionou-o, o Deva Silencioso, Senhor de todas as coisas móveis e imóveis, o sempre Beneficente e sempre Bem-Aventurado, o néctar de cuja misericórdia abunda como um grande oceano, cujo corpo é Puro Sattva Guṇa, ele que é branco como a canfora e a flor de jasmim, o Onipresente, cuja vestimenta é o próprio espaço, Senhor dos pobres e o amado e amoroso Mestre de todos os Yogīs, cujo cabelo enrolado e emaranhado está molhado com as águas de Gaṅgā e somente cinzas adornam seu corpo nu; ele que é desprovido de paixões, cujo pescoço está enfeitado com serpentes e crânios de homens, aquele de três olhos, Senhor dos três mundos, com uma mão segurando o tridente e com a outra concedendo bênçãos; facilmente apaziguado, cuja própria substância é incondicionado Conhecimento; o Doador da eterna Liberação, incondicionado, de quem vem sem medo, Imutável, Imaculado, sem defeitos, o Benfeitor de tudo, e o Deva de todos os Devas.

Śrī Pārvatī disse:

1:11-13 – Oh Deva dos Devas, Senhor do mundo, Joia de Misericórdia, meu marido, tu és meu Senhor, de ti sou sempre dependente e a ti devo sempre obediência. Não posso dizer nada sem tua palavra. Se tu me tens afeição, desejo colocar diante de ti o que se passa em minha mente. Quem mais além de ti, Oh Grande Senhor, é capaz de resolver minhas dúvidas, tu que conheces todas as escrituras.

Śrī Sadāśiva disse:

1:14-16 – O que tu dizes, O Grande Sábia e amada de meu coração, eu te direi qualquer coisa, mesmo o que for mistério, mesmo aquilo que não pode ser dito diante de Gaṇeśa e Skanda, comandante das hostes do céu. O que há em todos os três mundos que deveriam ser ocultados de ti? Pois tu, Oh Devī!, és meu próprio eu. Não há diferença entre mim e tu. Tu também és onipresente. O que então tu não sabes que questionas como aquele que nada sabe?

1:17 – A pura Pārvatī, contente em ouvir as palavras do Deva, curvando-se em obediência, assim questionou a Śaṅkara.

Śrī Ādyā disse:

1:18-19 – Oh Bhagavan!, Senhor de tudo, o maior dentre aqueles versados no Dharma, tu, nos Yugas anteriores, em tua misericórdia, através de Brahmā, revelou os quatro Vedas, os quais são os propagadores de todo o Dharma e que ordena as regra de vida para todas as variadas castas de homens e para os diferentes estágios de suas vidas.

Satya Yuga

1:20-29 – No Primeiro Yuga (Satya ou Kṛta Yuga) os homens, pela prática do yoga e do yajña prescritos por ti, eram virtuosos e agradando a Devas e Pitṛs. Pelo estudo dos Vedas, por Dhyāna e Tapas, e pela conquista dos sentidos, por ações de misericórdia e caridade, os homens eram de grande poder e coragem, diligentes e poderosos, aderentes do verdadeiro Dharma, bons e verdadeiros e, embora fossem mortais, eles ainda eram como os Devas e foram para a morada dos Devas. Os reis eram tão fiéis aos seus compromissos e estavam sempre preocupados com a proteção de seu povo, para cujas esposas eles costumavam olhar como mães, e cujos filhos eles consideravam como seus próprios. As pessoas também olhavam para as propriedades dos vizinhos como se fossem meros pedaços de barro e, com devoção ao seu Dharma, mantinham-se no caminho da devoção. Então, não havia mentirosos, ninguém que fosse egoísta, ladrão, malicioso, glutão ou luxurioso, mas todos eram bons de coração e sempre contentes. A terra produzia, em abundância, todos os tipos de grãos, as nuvens choviam chuvas sazonais, vacas davam leite em abundância, e as árvores eram pesadas de frutos. Não havia morte prematura, nem fome e nem doença. Os homens eram sempre alegres, prósperos e saudáveis, e dotados com todas as boas qualidades de beleza e esplendor. As mulheres eram casas e devotadas aos seus maridos. Brāhmaṇas, Kṣatriyas, Vaiśyas e Śūdras mantinha e seguiam o Dharma de suas respectivas castas em seus cultos e obtinham a liberação final.

Tretā Yuga

1:30-34 – Depois que a Era de Kṛta (Satya Yuga) terminou, tu percebeste que o Dharma no Tretā Yuga estava em desordem, e que os homens não eram mais hábeis, pelos ritos védicos, de realizarem seus desejos. Pois os homens, através de sua ansiedade e perplexidade, era incapazes de realizar esses ritos nos quais muitos problemas tinham de ser superados, e porque muita preparação (austeridades) tinha de ser feita. Em constante perturbação da mente, eles não eram nem capazes de realizar e nem estavam dispostas a abandonar os ritos. Tendo observado isto, tu fizeste conhecer sobre a terra as escrituras Smṛti que explicam o significado dos Vedas e, assim, libertados do pecado, o qual é a causa de toda dor, sofrimento e doença, os homens também eram fracos para a prática de Tapas e do estudo dos Vedas. Para os homens neste terrível oceano do mundo, quem está lá senão tu por teu acalento, por tua proteção, salvador, seu benfeitor paternal e Senhor?

Dvāpara Yuga

1:35-36 – Então, na Era Dvāpara, quando os homens abandonaram os bons trabalhos prescritos nos Smṛtis, e foram privados de metade do Dharma (cada yuga um pāda, dos 4 pādas, do Dharma é perdido) e foram afligidos por doenças da mente e do corpo, eles foram novamente salvos por ti através das instruções dos Saṁhitās e outros conhecimentos.

Kali Yuga

1:37-50 – Agora a pecaminosa Era de Kali está sobre eles, quando o Dharma é destruído, uma Era cheia de maus costumes e enganos surge. Homens seguem caminhos malignos. Os Vedas perderam seu poder, os Smṛtis foram esquecidos e muitos dos Purāṇas, os quais contém histórias do passado e mostra os muitos meios (que levam à liberação), irão, Oh Senhor!, ser destruídos. Os homens se tornaram avessos aos ritos religiosos, sem restrições, loucos de orgulho, sempre entregues a ações pecaminosas, luxuriosos, glutões, cruéis, impiedosos, duros no discurso, enganosos, de vida curta, atingidos pela pobreza, assediados por doenças e sofrimento, feios, débeis, pequenos, estúpidos, mesquinhos e viciados em hábitos desprezíveis, companheiros de pessoas sórdidas, ladrões, caluniadores, maliciosos, briguentos, depravados, covardes e sempre doentes, desprovidos de todo sentido de vergonha e de pecado, sedutores sem vergonha das esposas dos outros. Vipras viverão como os Śūdras e, embora negligenciarão seu próprio saṅdhyā (os ritos diários de sua casta), ainda assim oficializarão os sacrifícios mais inferiores. Eles serão gananciosos, entregues a atos perversos e pecaminosos, ladrões, hipócritas, ignorantes, enganosos, meros parasitas dos outros, os vendedores de suas filhas, degradados, avessos a todos os Tapas e Vratas. Eles serão falsos em doutrina e prática, e ainda se acharão sábios. Eles não terão fé ou devoção e farão Japa e Pūjā sem outro fim a não ser enganar as pessoas. Eles comerão alimento impuro e seguirão costumes malignos, eles servirão e comerão a comida dos Śūdras, serão dependentes dos outros e cobiçarão mulheres inferiores, serão maus e prontos para negociar dinheiro até mesmo por suas esposas. Em suma, o único sinal de que eles são Brāhmaṇas será o cordão (yajñasūtra, o cordão do sacrifício) que eles usarem. Sem observar qualquer regra em comer ou beber ou em outras matérias, zombando das Escrituras do Dharma, nenhum pensamento de discurso piedoso em suas mentes, eles estão inclinados a prejudicar os bons.

1:51-57 – Por ti também foi dito, para o bem e a Liberação dos homens, sobre os Tantras, um conjunto de Āgamas (escrituras onde Śiva é o guru e Devī é o Śiṣya) e Nigamas (escrituras onde Devī é o guru e Śiva é o Śiṣya), os quais contêm tanto desfrute (bhoga) quanto liberação (mokṣa), contendo Mantras e Yantras e regras tais como a sādhanā de ambos, Devīs e Devas. Por ti, também, tenho descrito muitas formas de Nyāsa, tais como aqueles chamados Sṛṣṭi, Sthiti (e Saṁhāra, Antar Mātṛkā). Por ti, novamente, tenho descrito as várias posições (āsanas de yoga), tais com aquelas de baddha (amarrado) e mukta (solto) lótus; e as classes de paśu, vīra e divya dos homens; o conhecimento do qual leva à realização de siddhi nos mantras dos Devatās. E novamente é tu que tens feito conhecer de mil maneiras os ritos relacionados à adoração com mulheres (latā sādhanā, o 5º tattva) e os ritos que são feitos com o uso de crânios (muṇḍa sādhanā), um cadáver (śavāsana), ou quando sentado sobre uma pira funeral (citāroha). Por ti também tenho proibido ambos, paśu-bhāva e divya-bhāva. Se nesta Era o paśu-bhāva não pode existir, como pode haver divya-bhāva? Pois o paśu deve, com suas próprias mãos coletar folhas, flores, frutos e água e não deve olhar para um śūdra e nem mesmo pensar em mulher. Por outro lado, o divya é tudo senão um Deva, sempre puro de coração e para quem todos os opostos são iguais, livre de apego às coisas mundanas, o mesmo para todas as criaturas e clemente. Como pode os homens com a contaminação desta Era sobre eles, que são sempre de mente inquieta, propenso a dormir, alcançar a pureza da disposição?

1:58-74 – Oh Śaṅkara!, por ti também tenho falado dos ritos do vīra sādhanā, onde são usados os pañcatattva, ou seja, vinho, carne, peixe, grãos ressecados e união sexual do homem e da mulher. Mas desde que os homens do Kali Yuga estão cheios de ganância, luxúria e gula, eles irão, por conta disso, negligenciar a sādhanā e irão cair em pecado, e tendo bebido muito vinho por conta dos prazeres dos sentidos, eles se tornarão loucos de intoxicação, e desprovidos de toda a noção do certo e do errado. Alguns homens irão violar as esposas dos outros, alguns se tornaram ladrões e outros homens pecaminosos, na raiva indiscriminada da luxúria, irão com qualquer mulher. O consumo excessivo do álcool e semelhantes, prejudicará muitos e os privarão de força e sentido. Desordenados pela loucura, eles encontrarão a morte caindo em lagos, poços ou em florestas impenetráveis, ou das colinas o dos telhados. Enquanto alguns serão mudos como cadáveres, outros serão sempre tagarelas e, ainda, outros, brigarão com seus parentes e mais velhos. Eles serão malfeitores, cruéis e destruidores do Dharma. Eu temo, Oh Senhor!, que até mesmo aquilo que ordenaste para o bem dos homens, através disto resultará em mal. Oh Senhor do Mundo!, quem irá praticar yoga ou os muitos tipos de Nyāsa, quem cantará os hinos e desenhará os yantras e fará puraścaraṇa? Sob a influencia do Kali Yuga, o homem, por sua natureza, tornará-se realmente perverso e sujeito a todos os tipos de pecado. Diga, Oh Senhor de todos os aflitos”, em tua misericórdia, como sem grandes dores os homens podem obter longevidade, saúde e energia, aumento de força e coragem, aprendizagem, inteligência e felicidade; e como eles podem se tornar grande em força e valor, puro de coração, obediente aos pais, devotados às suas esposas, atentos aos bem do próximo, reverente aos Devas e aos seus Gurus, apreciadores de seus filhos e parentes, possuindo o conhecimento de Brahman, instruídos nas tradições e sempre meditando em Brahman. Diga, Oh Senhor!, para o bem do mundo, o que os homens devem ou não devem fazer de acordo com as suas diferentes castas e estágios da vida. Pois quem, além de tu, é o Protetor em todos os três mundos?

Fim do 1º Capítulo do Mahānirvāṇa Tantra, o qual é o mais excelente de todos os Tantras e onde é apresentada a essência de todo o Dharma, intitulado “Questões Relacionadas à Liberação dos Seres”.

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